quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Caminhos - parte 3.



As portas começaram a bater freneticamente, muito mais do que antes. Passei os olhos por cima do ombro e balancei a cabeça negativamente, voltei para a janela e a garota lá embaixo. Ela, que me oferecia espinhos ao invés de rosas, mas que dizia ser meu band aid, caso me ferisse. Que me mandava calar a boca quando o que ela mais queria era me ouvir, que preferia o silêncio a ter que me dizer seus sentimentos reais, mas que, nos pequenos gestos, deixava escapar a explicidade do ser. A garota que se poupava do trabalho que dava explicar, e das lágrimas que eu iria derramar caso ela não evitasse falar. Que não gostava de me ouvir chorar, por querer chorar também.
Eu lembrei de tudo que aquela droga me trouxe, todo e qualquer vestígio de dor e prazer que ela havia me proporcionado até então. O vício mais forte que eu já tive conhecimento, o meu único também. E uma reabilitação seria totalmente fora de cogitação. Foi uma conclusão que eu tirei alí, vendo seu corpo me chamar e sua alma sussurrar pelo olhar. Sim, porque apenas - e unicamente eu podia ve-la assim. Por mais máscaras que fosse possível colocar sobre seu rosto manchado, eu sempre o veria como ele realmente era. Sua carne era fraca e a minha, mais forte que a dela. Seus pensamentos não coincidiam com os meus, nem mesmo as ideias. Sua vida era uma reta x e a minha, uma reta y, e ambas se encontraram em um determinado ponto que dou o nome de 3,14. Algo imprevisível, de um valor enorme e dificil de calcular precisamente.
Eu tinha mais de 10 caminhos ali, naquela mesma sala vazia onde eu estava, poderia escolher qualquer um que convinha a mim. Mas eu me joguei. Empulerei meu corpo sobre a janela, mirei bem onde os braços da garota estavam, e pulei. A altura não era muita, quebrar algum osso ou coisa do tipo não estava nos meus planos e também seria pouco provável.

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