segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Irracional

Jogou os pratos ao chão, puxando até a toalha que cobria a mesa, os copos voaram e se espatifaram na parede. Eu apenas ouvi a cena, levei automaticamente as mãos ao rosto, escondendo as lágrimas que jorravam sobre ele, eu não conseguia conter aquela necessidade de chorar, eu enlouqueceria se não me obedecesse naquele momento. Não era medo daquele homem descontrolado a minha frente, eu sabia entender perfeitamente sua reação, talvez em seu lugar não teria feito diferente.
Ele cuspia sobre mim todas as palavras que um dia eu tive medo de que fossem proferidas por aquela boca macia que por tantos anos vinha me dando beijos e promessas doces de amor. A dor contida em cada frase me fazia chorar ainda mais, era eu a culpada por toda raiva jogada para fora. Fui eu que não soube me controlar, foi por um motivo fútil que me deixei levar. Fui eu que joguei as cartas erradas e blefei com insegurança. Pois depois de tudo, tinha plena consciencia de que o acontecido, não deveria nunca acontecer.
Eu provei de outro gosto. O doce ficou amargo. As paredes de meu único castelo caía sobre mim naquele momento, e era eu que as havia martelado. Eu queimava por dentro de culpa, cada lágrima era água quente fervendo em minhas bochechas. Eu não conseguia ao menos olhar para ele. Um tapa tirou minhas mãos que escondiam a vergonha. E pude ver seus olhos vermelhos e marejados. Suas mãos segurando com mais força que eu pensei que seria capaz de suportar e fui questionada com a pior das perguntas: Por quê?
Meu corpo reclamou e meus olhos se arregalaram. Ele sentiu o medo repentino vindo de mim e saiu. Eu não o vi por mais de duas semanas, sobrevivi a base de água, biscoitos, vodka, cigarros e fotos. Mal podia me olhar no espelho, não queria encontrar meu rosto levemente desfigurado de tanto chorar. Chorar o pecado, a pior de todas as idiotices de minha vida. Foi quando a porta se abriu bruscamente e eu vi sua sombra se fazer ao chão. Eu corri, tropeçando várias vezes, jogando o que havia no caminho para longe. A luz do Sol me fez pestanejar. Corri em direção do rapaz parado a porta. Abracei-o como nunca havia feito. Senti suas mãos frias tocarem, por mais uma vez, meus braços e me afastar. Eu o olhei, pedindo de boca fechada para que ele voltasse para mim. Mas somente eu não havia percebido, que aquilo era um adeus. Sua nova mulher o esperava, logo atrás, parada dentro de seu carro. Eu apenas cai e lá fiquei, enquanto ele arrumava suas coisas. Saiu sem dizer uma palavra sequer. E deixou a porta aberta. Mas era apenas uma simples porta de uma casa velha onde ele deixara a pessoa que mais o amou em toda sua vida. Mesmo sendo apenas uma fraca, eu era a única em sua vida, e sabia disso. É, eu sei.
" Just gonna stand there and watch me burn. But that's allrigh because I like the way it hurts.
Just gonna stand there and hear me cry. But that's allrigh because I love the way you lie. "

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