Todas as portas pararam e se enfileiraram em minha frente, uma ao lado da outra. Pude ver por minha visão periférica, já que estava fingindo ignorá-las e, portanto, não as poderia olhar de frente. Uma delas fazia um rancher horrível que encomodava meus ouvidos, mas eu não protestei e tentei me ocupar com diferentes pensamentos, como o almoço de domingo que minha mãe estava pensando em fazer. Até que o barulho parou, mas em seguida, a última da esquerda começou a bater, como se uma tempestade do outro lado estivesse a empurrando com seu vento forte. Pude sentir um sopro tocar meu rosto e fechei os olhos por alguns segundos. Após as demonstrações de cada porta, todas passaram a fazer em sincronia, como se fosse para me enfernizar, e eu sabia que era. Para eu enlouquecer, me por de pé e entrar logo em alguma para que aquilo tudo parasse. Mas eu tinha de ser forte, por experiência básica, faze-lo faria de mim impulsiva, e isto era um defeito que há tempos vivia em mim e que estava tentando sanar.
Estralei os dedos algumas vezes, me levantei e fui olhar pela janela, ela estava fechada e então aproveitei o reflexo para me observar. Eu estava um pouco abatida, mas as olheiras eram normais, as tinha como marca de nascença, talvez. Eram constantes, hora mais profundas, ora menos. Meu cabelo estava relativamente grande, liso, e não com cachos ondulados pendendo nas pontas, como eu gosto. Vestia minha camisola branca surrada, mas que me caí muito bem. Minha pele estava mais clara e eu me perguntei se era falta de raios ultravioleta ou apenas efeito da luz no ambiente. Tentei me concentrar em minha imagem e deixar as portinhas se debaterem sozinhas, até se cansarem.

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