terça-feira, 3 de maio de 2011

Arrepen(dime)nto

Era uma noite fria e silenciosa, para uma megalópole que nunca para. Meus olhos não conseguiam fechar, ou talvez não queriam nem um pouco faze-lo. Levantei-me e com um olhar perdido e amargo, o olhei deitado entre meus lençóis azuis. Peguei minhas chaves, o maço de cigarro amassado e meu velho isqueiro, minha blusa de moleton me protegia contra o frio que vinha de fora, mas o que já estava lá dentro era o que mais doía. Me sentei no primeiro degrau da entrada e lá fiquei observando as estrelas desaparecendo junto com a fumaça que saía da minha boca, e por fim, o Sol vinha chegando como quem nada quer.
Então a vi passar, com um pijama surrado e descalça, os olhos firmes em uma só direção, com passos lentos e em seu rosto, não havia expressão alguma. Meu coração, despreparado, fez minha respiração falhar de tanto que batia, de tanta confusão que adentrava em minhas veias. Aquilo me fez ferver de preocupação, todo aquele sentimento trancafiado, por fim estava quase a sair.
Andei algumas ruas atrás dela, sem fazer nenhum movimento brusco, sem barulhos que a fizem perceber minha presença na rua deserta. Cada lágrima que caía, era uma lembraça borbulhando em minha cabeça. Nada até então fazia sentido, estávamos na praia e eu ficava me perguntando o por que disso.
Foi então que a vi entrar na água, apenas suas pernas se movimentavam, e os cabelos negros acompanhavam o sabor úmido do vento. Conforme seu corpo ia sendo coberto pela água, o mesmo prosseguia imóvel. Ela não nadou.
Meu grito corroeu toda minha garganta. Comecei a correr em direção ao mar, mergulhei na tentativa de leva-la para a areia, mas ela me empurrava, como uma negação à minha ajuda, usei de toda minha força para segura-la em meus braços, e mesmo com toda a resistência, a arrastei para a borda.
- Por que você fez isso? Por que não me deixou lá? Eu fui até lá, eu quis me deixar levar!
- Você ficou louca? Se afogar, cometer suicídio? Era isso que você queria?
- Melhor ser levada pelas águas do que me deixar levar pela depressão que me abatia. Melhor engolir litros de água do mar do que ter de engolir o fato de que você não me quer mais.
- Eu nunca disse isso.
- Não precisou, os fatos falam por si só.
- Foi um erro, eu sei..
- Não foi um erro, foi uma escolha.
- Uma escolha muito errada.
- Mas quando se escolhe alguma coisa, acabamos por renunciar a outras.

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