Baseado em fatos imaginários e palavras reais.

Eu observei os olhos dela atentos enquanto me falava palavras que pareciam entrar em meus ouvidos e virar meu coração do avesso, de cabeça pra baixo, do peito para a garganta, prestes a sair. Eu não conseguia olhar pra mais nada que não fossem aqueles olhos castanhos marejados, eram como um espelho, pois os via, imaginando os meus, que também estariam assim.

Eu nunca imaginei que algo assim fosse acontecer comigo. É tão forte e tão dificil de explicar. As vezes eu paro pra pensar em tudo que a gente viveu até hoje e fico tentando entender o porque de tudo isso, se é realmente um presente de Deus, se é coisa do destino. Mas não encontro nada que se encaixe. Eu só sei que eu não consigo mais viver sem você. Todos os dias eu acordo com o teu rosto piscando em minha memória e tudo que eu mais queria era poder me reencostar no travesseiro e te encontrar me olhando, desse mesmo jeito que me olha agora.
E foram por tantas vezes que os medos e as incertezas me pegaram de surpresa que eu quase desisti. Eu pensei realmente em te deixar para que você pudesse encontrar alguém que fosse melhor do que eu, que pudesse estar com você, presente, de carne e osso, pra qualquer hora que você precisasse. Eu pensava tanto em você que esquecia de mim, e na dor que estava sentindo por dizer tudo aquilo, por fingir acreditar em mim quando eu dizia que eu era uma nova pessoa, uma da qual ninguém tinha conhecimento. Mas a verdade é que o único momento em que eu mudei foi quando te encontrei, e foi uma mudança pra melhor. Só você me conhece do jeito que eu sou, sem máscaras. E te ouvir chorar por mim, doeu tanto lá dentro da alma sabe?! Eu passava dias chorando sozinha, tentando mentir pra mim mesma que tudo iria ficar bem, que as coisas iam melhorar e que eu estava seguindo o caminho certo. E a noite, ao me deitar, tudo que eu mais queria era poder te ligar e ouvir sua voz, sua risada, suas besteiras, mas eu estava bêbada demais pra isso. Sair com os amigos foi o modo que achei de não ficar 24hrs em prantos trancada no meu quarto. E doía tanto ver que as pessoas não percebiam que tudo que eu precisava era de um abraço e não de um copo de cerveja, mas eu aceitava mesmo assim, achando que isso me faria bem.
Só que definitivamente, nada consegue me fazer bem, além de você. A paz que eu sinto é inesplicável quando imagino seus carinhos, seus beijos e sua voz sussurrando em meu ouvido, com aquelas palavras doces que você sempre tem, como cartas na manga.

E depois de uma breve pausa para que o choro reprimido saísse, ela prosseguiu aos soluços:

Promete pra mim que, mesmo com todos os meus defeitos, mesmo eu sendo muito insensata em algumas horas, promete pra mim que não vai me deixar? Promete que vai me levantar se...

Eu não a deixei continuar e respondi quando seu rosto fitou o chão, derramando todas as gotas que escorriam de seus olhos. Segurei levemente em seu queixo, acariciando o mesmo com o polegar, levantei seu rosto para que ela pudesse me olhar novamente.

Eu não vou deixar nem você cair, não vai precisar se dar o trabalho de levantar. Eu sempre vou estar ao seu lado, por mais que, quando olharmos para os lados, só vermos dificuldades, eu não vou te deixar e não vou permitir que você faça o mesmo, pois a certeza mais pura que tenho é desse nosso amor. Não posso nem pensar em descrer de seus sentimentos por mim, eles estão mais do que concretizados e gravados em mim. Olha... Um dia você me disse que eu sou seu anjinho não é? Pois então, anjos da guarda não podem abandonar seus protegidos, correto? Eu sou tua, você sabe disso. Eu te amo tanto, minha vida...

Ela tentou - em vão - responder algo a mim, pois o pranto foi maior. Ver uma das pessoas mais importantes na minha vida chorar daquele jeito, literalmente cortou meu coração. Abracei-a com toda minha força de proteção, com todo carinho que eu podia demostrar naquele momento e chorei junto dela, emaranhando meu rosto e minha mão direita em seus cabelos, sentindo aquele perfume levemente adocicado e que já estava empregnado por todo meu quarto. Ela encostou o rosto em meu ombro e foi se acalmando aos poucos, sem se desgrudar de mim, cada vez mais próxima e mais dependente daquele momento. Suas lágrimas fizeram um círculo torto na manga da minha blusa, onde ela, vez em outra, cobria de beijos vagarosos. Virou o rosto para o lado de meu pescoço e novamente deu seus beijos tão doces quanto eu sabia - desde o início - que eles eram.

Eu também te amo. Te amo muito. Você é o amor da minha vida sabia, neneca?

Ela me olhou de baixo com os olhinhos inchados, as pálpebras úmidas, vários caminhos de água pelo rosto, brilhando sob a luz, com um sorriso de criança no rosto. Eu não pude deixar de sorrir de volta, um sorriso ainda maior. Dei um beijo calmo no centro de sua testa, encostei a minha na mesma e ali ficamos, abraçadas, rezando para que o tempo realmente parasse para nós naquela noite.