domingo, 28 de julho de 2013

Aqui

Eu não sei desenhar. Não daquele jeito bonito que todo mundo chama de arte. Nem mesmo um rostinho bonito com lápis 6b. Meus desenhos de árvore, casinha de telhado triangular, cachoeira, sol, passarinhos, parece que foi uma criança de 8 anos que desenhou, mas fui eu.

Não sei como dar parabéns. As pessoas sempre desejam "tudo de bom, muita felicidade, paz, amor, dinheiro" e colocam uma risadinha no final. Eu não gosto de ser igual e repetir tudo que a tia ou a colega de trabalho falou, então eu dou um abraço bem apertado, um beijo no rosto, falo um parabéns baixinho olhando nos olhos, tentando demonstrar o quão especial a pessoa é para mim.

Não sei andar de bicicleta. Quando pequena eu tinha uma da barbie, com rodinhas traseiras, mas ninguém nunca as tirou e eu também nunca pedi. Agora, que sou grande perdi a vontade, a coragem, e ganhei vergonha de ter coragem e vontade de aprender. Nadar também não consigo. Já tentei algumas vezes mergulhar meu corpo embaixo d'água, segurar a borda da piscina e ir impulsionando minhas pernas pra cima até boiar próxima a superfície, mas na hora de soltar as mãos da borda, eu me apavoro, sinto um fio gélido subir pelo estômago e desisto na hora. (Tenho problemas com perdas, talvez seja isso. Talvez eu não queira perder o medo.)

Já tentei patinar, mas com aqueles patins de duas rodinhas pra mim não dá. Me segurava pelas paredes e minhas primas gritavam "Segura minha mão! Você não vai cair, não". Mas eu acabava sentando no pé da porta e desistia. Assoviar foi sempre um dilema. Acho que tem gente que nasce sem saber mesmo, por mais que tente. Vai saber se não existe uma doença pra isso, uma "assobioginite".

Me incomoda muito, mas eu também não consigo ficar calada quando estou profundamente afetada pelo afeto de alguém. Sou a típica apaixonada linguaruda, que manda frase bonitinha na calada da noite, que usa do exacerbo para explicar o imenso e gigantesco, exageradíssimo frio na barriga que me sobe ao ver a pessoa, e a pulsação descontrolada, a mão gélida e aquele calor interno que dá devido as batidas aceleradas do coração como se fosse um batuque de escola de samba que não para até o sol raiar.


Mas eu sei escrever. Ah, isso eu sei fazer muito bem. Porque pra escrever não se precisa de nenhuma técnica ou truque. Se quiser desregrar as regras de português é até permitido pra soar como poesia na mente de quem lê. Minto. Existe uma única regra para se escrever: Tem que vir das profundezas da alma, tem que ter sentimento, seja ele qual for. Normalmente, quando se escreve, se pensa em algo ou alguém. Penso no que já me aconteceu, no que poderia acontecer, no que provavelmente acontecerá. Penso nas desesperanças da vida, nas indas e vindas, nos tombos levados, nos livros que já li, nas músicas que me marcaram, nos filmes que já assisti. Penso nela. Que há tempos conheço, mas não sei ao certo quem é. Talvez seja o mistério que me atraia, aqueles olhos bêbados de risada, fico tonta só de olhar. Os lábios desenhados com pincel rosado, ela os contorna com a língua que molha meus pensamentos insanos. O cabelo nunca é o mesmo, isso mostra sua instabilidade, sua personalidade forte e frágil. O cheiro do shampoo marca seu território na lista de aromas que mais que inebriam. Ele se mistura com a fragrância suave de sua nuca, a qual  me oferece, maliciosa, querendo mais. Mas esse mais eu não sei até onde vai. 

São como capítulos de um livro onde não se pode ver o que está por vir, um futuro bloqueado por senhas a se decifrar. Seu corpo, se me lembro bem é de um branco corado, sua pele macia que eu poderia roçar as unhas a semana inteira. Poderia escrever minhas frases de amor e meu nome em sua coxa e ver o sangue abaixo da pele se concentrar em riscos rosados até formar letras, palavras. Então, no dia seguinte, checaria para ver se a marca permaneceu ou foi só de momento.
Mas no momento, o que consigo fazer é escrever... Aqui.